Pilar del Rio garantiu à Lusa que a Fundação Saramago não recebeu “nem um tostão do Estado” e assim continuará. Gostava de acreditar, mas ela própria se desmente na entrevista. Primeiro, ao queixar-se do tempo que estão a demorar as obras na Casa dos Bicos, onde ficará instalada a fundação, obras que estão a ser pagas pela câmara de Lisboa num espaço que é público. Ou seja, o Estado gasta dinheiro com a instalação da Fundação Saramago, e não tão pouco como isso, mas Pilar del Rio acha que mesmo assim “recebeu um tostão”. Eu também gostava de ser assim: o Estado dava-me casa, fazia-me as obras e, depois, eu andava por aí, sem corar nem me atrapalhar, a dizer que não tinha recebido dinheiro do Estado.
Mas há mais. Na mesma entrevista, para dar uma bicada ao novo governo que ainda não tomou posse, elogia “o empenho total e absoluto” da ministra da Cultura cessante na organização de um espectáculo que terá lugar dia 19 no CCB. O espectáculo, lê-se no programa, é uma realização conjunta da Fundação Saramago e do Ministério da Cultura, e tem ainda o apoio da Câmara de Lisboa. Ou seja, a Fundação que “não recebe um tostão do Estado” organiza eventos apoiados e subsidiados pelo Estado. De novo, também gostava. Além de casa e obras feitas, não era mal que o Estado ainda zelasse por eu ter comida na mesa. Não precisava de me dar dinheiro, era só lá pôr os víveres. Para eu poder continuar a dizer que não recebia um tostão.
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